sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Atum ralado: tem outro peixe na lata

Estudo da ProTeste apontou que latinhas das marcas Alcyon e Rubi traziam o peixe bonito, que é menos nobre e mais barato

Consumidor é lesado ao pagar por produto mais caro, diz órgão; para especialista, seria preciso gosto apurado para notar a diferença

MÁRCIO PINHO
FOLHA DE SÃO PAULO

Cada vez mais o consumidor precisa estar atento, com um olho no peixe e outro no gato. Principalmente no peixe. O órgão de defesa do consumidor ProTeste divulgou um estudo mostrando que latinhas de duas marcas -Alcyon e Rubi- que deveriam ter atum ralado traziam, na verdade, o peixe conhecido como bonito.

Tanto ele como o atum pertencem à mesma família e têm sabores parecidos. O atum, no entanto, é considerado uma carne mais nobre. Algumas espécies estão ameaçadas de extinção e são de pesca restrita.

Essa diferença se reflete nos preços: o quilo do atum custa R$ 10,83 em média na Ceagesp -central de venda de alimentos em São Paulo- e o do bonito, R$ 1,30.

Segundo Fernanda Ribeiro, pesquisadora da ProTeste, “o consumidor está sendo lesado quando paga por um produto muito mais caro e leva outro”.

Ela explica que foi examinado o DNA dos peixes presentes nas latas. Alcyon e Rubi traziam peixes dos gêneros Auxis e Euthynnus, respectivamente, que são tipos de bonito, segundo parâmetros para a produção de conservas definidos pela portaria 63/2002 do Ministério da Agricultura. A grande maioria dos peixes considerados atum é do gênero Thunnus.

O estudo verificou que as marcas Pescador, Coqueiro, Big Fish e Gomes da Costa traziam atum em suas latas. O teste não conseguiu definir qual o peixe nas latas da marca CPC, o que não representa uma irregularidade, segundo a ProTeste, já que o preparo do produto (cozimento) pode impossibilitar a análise do DNA.

Em outro teste, em que foram analisadas marcas de atum ralado ao natural (com água), a Rubi também foi testada e foi aprovada. A ProTeste não divulga o nome do laboratório que realizou os testes por entender que poderia haver pressões de empresas. Foram analisadas 25 latas de cada produto.

Semelhanças


Segundo especialistas em peixe, as diferenças não são grandes entre atum e bonito.
Pedro Abate, que tem 40 anos de pesca e é dono do restaurante de comida japonesa Mitsuyoshi, em São Paulo, afirma que o consumidor teria que ter um gosto muito apurado para notar a diferença entre os dois peixes na forma enlatada.

“Esses peixes são industrializados, cozidos. Só um especialista para notar a diferença.”

Quando consumidos crus, há uma “diferença brutal”, afirma Abate, pois a carne de atum é muito mais gostosa. Ele explica que a carne do bonito tem muito sangue e, por isso, seu valor comercial é baixo.
Segundo Fábio Porto-Foresti, do Laboratório de Genética de Peixes da Unesp, atum e bonito são da mesma família, a dos Scombridae. Em termos científicos, explica, as diferenças são poucas. Na família, há espécies que se diferenciam por listras ou manchas, por exemplo.

DIFERENÇAS ENTRE ATUM E BONITO:

ATUM




Pesca é restrita (algumas espécies estão ameaçadas de extinção)
Peixe de porte avantajado, que pode alcançar mais de 500kg
Habitat: Mar aberto
Preço aproximado: R$11,00Kg

BONITO




Da mesma família, sua carne é semelhante à do Atum, só que menos “nobre”
Pesca não é restrita
Alcança cerca de 8Kg
Habitat: Mar aberto ou próximo de ilhas oceânicas
Preço aproximado: R$1,30Kg a R$6,90Kg


Fonte: http://blog.seashepherd.org.br/2010/02/03/teste-acha-outro-peixe-em-2-marcas-de-atum/

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